segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Feijoada


A história da feijoada nos leva à história do feijão. O feijão preto, aquele da feijoada tradicional, é de origem sul-americana. Os primeiros cronistas coloniais já mencionam essa iguaria na dieta indígena, como o viajante Jean de Léry e o cronista Pero Gandavo, ainda no séc. XVI. No século seguinte, foi a vez de um naturalista holandês descrever a nobre semente do feijoeiro.O nome que usamos para chamá-lo, porém, foi dado pelos portugueses. Quando aqui chegaram, há 500 anos, já se conhecia na Europa diversas variedades desse vegetal. Outras variedades foram introduzidas na colônia, como o feijão-fradinho, consumido em Portugal. Mas a opinião geral era de que o feijão do Brasil, o preto, era o mais saboroso.


As populações indígenas o apreciavam, embora consumissem mais a mandioca sob várias formas, inclusive como bebida, e esta caiu nas graças de todos. Os paulistas em suas andanças ingeriam muita farinha de mandioca, misturada com carne, mas também comiam feijão preto.
No séc. XIX, todos os viajantes que aqui vieram descreveram a importância central do feijão nos hábitos alimentares dos brasileiros, ricos ou pobres (para estes, quase sempre iguaria única).


Vários deles destacavam a forma como o prato era servido, acompanhado de toucinho. Debret descreveu o jantar da família de um humilde comerciante dos tempos de D. João VI: "se compõe apenas de um miserável pedaço de carne-seca, de três a quatro polegadas quadradas e somente meio dedo de espessura; cozinham-no a grande água com um punhado de feijões-pretos, cuja farinha cinzenta, muito substancial, tem a vantagem de não fermentar no estômago".


Porém, nem só de feijão viviam os homens. Os índios tinham uma dieta variada, os escravos também comiam mandioca e frutas, apesar da base do feijão. Havia entre os habitantes da colônia, por outro lado, tabus alimentares que NÃO permitiam uma mistura completa do feijão e das carnes com outros legumes. Pergunta Elias: Como poderiam fazer nossa conhecida feijoada?


Na Europa, sobretudo a mediterrânica, havia - e há - um prato tradicional que remonta pelo menos aos tempos do Império Romano: uma mistura de vários tipos de carnes, legumes e verduras. Há variações de um lugar para o outro, porém é um prato bastante popular e tradicional. Em Portugal, o cozido; na Itália, a casoeula; na França, o cassoulet; na Espanha, a paella, esta feita à base de arroz. Esta tradição vem para o Brasil com os portugueses e, à medida que se adapta ao paladar local, surge a idéia, inaceitável para os europeus, da inclusão do feijão.


Nasce a feijoada.


Para Câmara Cascudo o feijão preto de todo dia, com carne, água e sal, é apenas feijão. "Há distância entre feijoada e feijão. Aquela subentende o cortejo de carnes, legumes, hortaliças." Essa combinação só ocorre no séc. XIX, e bem longe das senzalas. Em artigo escrito num jornal de Pernambuco, em março de 1840, o padre Miguel Gama condenava a "feijoada assassina", escandalizado pelo fato de que era muito apreciada por homens sedentários e senhoras delicadas da cidade.


É importante lembrar que as partes salgadas do porco, como orelha, pés e rabo, nunca foram restos. Eram apreciados na Europa, enquanto o alimento básico nas senzalas era uma mistura de feijão com farinha. Uma das referências mais antigas que se conhece é a feijoada em restaurantes, está no Diário de Pernambuco de 7 de agosto de 1833, no qual o Hotel Théatre, do Recife, informa que às quintas-feiras seria servida "feijoada à brasileira". No Rio de Janeiro, a menção à feijoada servida em restaurante aparece pela primeira vez no Jornal do Commercio de 5 de janeiro de 1849.


O historiador Rodrigo Elias cita ainda em seu artigo outros exemplos de degustação da feijoada por indivíduos de extração nobre. Destaca que o livro O Cozinheiro Imperial, de 1840, assinado por R.C.M., traz receitas para cabeça e pé de porco, além de outras carnes - com a indicação de que sejam servidas a "altas personalidades". Um cronista brasileiro da segunda metade do séc. XIX, França Júnior, dizia que feijoada não era o prato em si, mas o nome de uma comemoração entre amigos, a "patuscada", na qual comiam todo aquele feijão.


Hoje em dia há várias receitas, trata-se de um prato em construção, já afirmava Câmara Cascudo há 40 anos. Em alguns lugares do Brasil, é consumido no inverno. No Rio de Janeiro, vai à mesa de verão a verão, dos botecos mais baratos aos restaurantes mais sofisticados. O sabor mas também a ocasião é que garantem o sucesso da feijoada.





Um comentário:

Isabel Salvador disse...

mas k bom aspecto dessas comidinhas.....bjokas